Liana foi uma mulher cheia de certezas. Já eu, sempre fui uma pessoa cheia de dúvidas. Quando nos encontramos, profissionalmente, não demorou para nos tornarmos grandes amigos. Eu não sei explicar muito bem nossa proximidade, mas foi meteórica. Intensa, explosiva e, infelizmente, passageira. Pelo menos, tenho a certeza que nunca deixei de falar algo para ela. Sempre elogiei e questionei quando precisei. E ela sempre estava lá para responder. Ela sabia o que eu tava sentindo antes mesmo de precisar falar. Me receitava músicas, banhos e poesias.
Eu, como muitas pessoas do Brasil, cresci escutando Noporn. Música que me fez entender muito sobre minha sexualidade, meu gênero, meu tesão e tudo que faz parte da minha identidade Queer. Liana moldou uma geração inteira de esquisitonas. É linda a forma que as pessoas se conectam de diferentes maneiras com suas letras. O segredo tá na subjetividade do sujeito. Como disse Guilherme Guedes, “alguns não entendem, mas quem entende, mergulha”.
Conversar com a Liana é igualzinho a escutar suas músicas. Cheia de tesão pela vida, uma militante da sua própria arte. Ela vivia rodeada de arte. Seu apartamento era um dos lugares mais legais que já visitei: cheio de quadros, esculturas, pinturas, álbuns, fotos, rabiscos, letras. Cheio de Liana. Mega cosmopolita, ela imortalizou a noite de São Paulo sem clichês. E, pasmem, sem treta com ninguém. No meio do cinza, propagou o vermelho.
É muito difícil citar o nome de uma pessoa que criou algo tão icônico. Se você ouvir alguém cantando e citando poesia com batidas eletrônicas, vai logo dizer “isso é muito Liana”.
Entre nós, foram anos de trocas e encontros. Ela sempre cuidou de mim. Me contava histórias que moldaram minha personalidade atual. Me tornou uma pessoa melhor. Com mais amor e me fez ligar o lado “fuck off stupid people” que eu precisava. Um dia, queria documentar algumas histórias. Tipo uma que ela jogou uma aliança para os tubarões no mar do Recife. Assim só ela e os tubarões seriam donos dela. Ou que ela vestia a Rita Lee com peças que ela levava na casa dela.
As palavras jamais serão suficientes pra eu falar de você pra alguém. Mas juro que continuarei o seu legado para te eternizar. Seja em palavras, essas que você sim sabia como usar, ou atitude, que você esbanjava com classe. E foi de forma elegante e reservada que você lutou nesses últimos meses. Você é eterna. Viva Liana para sempre.
Com amor, pro sempre seu, Dimas Henkes ❤️
Em Junho de 2022, gravei um live set dela no meu programa Bumbum na rádio Veneno. É lindo e tem uma vibe mais introspectiva. Ela até canta um pouco de Insensatez, do Tom Jobim.
É pra lembrar que ela quer nos ver dançando hoje.
Ela amava essa newsletter. Espero que ela goste dessa edição.
Que linda homenagem. ❤️
lindo <3