(っ◔◡◔)っ Olá, ouvinte!
No último final de semana, Adriana Calcanhotto cantou “Estrela, Estrela”, do Vitor Ramil, no programa Altas Horas. Além dela, vários nomes da música rio-grandense foram cantar suas versões do Sul para o Brasil escutar. E isso me fez lembrar de um Rio Grande do Sul que poucas pessoas conhecem - e que eu mesmo já tinha me esquecido.
Quando eu era criança, eu costumava participar fervorosamente da cultura gaúcha. Eu dançava músicas tradicionais nos CTGs (Centro de Tradições Gaúchas), sabia todo o hino do RS e amava celebrar tudo isso. Confesso que uma das minhas partes favoritas era a liberdade de usar uma bota de cano alto publicamente com uma bombacha (uma calça extremamente bufante, que tenho e uso até hoje). Mas, com a adolescência - e a consciência - chegando, eu comecei a me distanciar por não me identificar mais com uma cultura que se mostrou… diferente do que eu entendia. E, hoje, quero falar do Rio Grande do Sul que eu conheci.
Historicamente, a cultura gaúcha é cultura indígena. Nossos dois principais elementos culturais, chimarrão e churrasco, tem origem dos povos nativos Guaranis, Quínchas e Aimarás. O chimarrão era uma “bebida social” e muito respeitada, sempre se tomava em um grupo fazendo um circulo e só se passava a cuia com a mão esquerda (do coração) em respeito à bebida que era vista como sagrada (tradição que se mantém até hoje). Já o churrasco, tem origem das caças de animais selvagens que, quando os caçadores nativos voltavam para casa com a carne, a salgavam com o suor do próprio cavalo, para depois assar em fogo de brasa no chão com espetos de pau.
Na cultura, o estado também já teve grandes momentos. Sobre música, já falei nessa newsletter sobre Os Almôndegas, mas também tivemos a própria Adriana Calcanhotto, Elis Regina, Lupicínio Rodrigues, Renato Borghetti, Humberto Gessinger, Engenheiros do Hawaii, Vitor Ramil, Kleiton e Kledir, Júpiter Maçã, Bidê ou Balde, Defalla, Berenice Azambuja e até o DJ Chernobyll (o verdadeiro responsável por mostrar funk brasileiro pro Diplo). No teatro, quem nunca se emocionou com Tangos & Tragédias? No cinema, temos o destaque queer dos filmes dos diretores Filipe Matzembacher e Marcio Reolon. Na literatura, Martha Medeiros, Lya Luft, Ismael Cannepele, Érico Veríssimo e por aí vai.
Na política, terra de Manuela D’Avila, Brizola, Olívio Dutra, historicamente o estado foi de esquerda. O MST, que vem fazendo um trabalho essencial na linha de frente doando comida orgânica para as famílias atingidas, foi criado no Paraná e teve forte desenvolvimento no Rio Grande do Sul. No segundo turno de 89, o RS foi um dos únicos estados a votar majoritariamente no Lula - ato que se repetiu na década de 90. E um dos fatos mais surpreendentes é que o estado é o recordista nacional em números absolutos de indivíduos vinculados às religiões afro-brasileiras (Umbanda e Candomblé).
É esse o Rio Grande do Sul que eu cresci, conheci, vivi e carrego comigo até hoje. E também vi ser destruído pelas águas violentas da natureza. Um drama sem fim. Uma tragédia que poderia ser evitada. Mas que, em palavras, resolvi eternizar aqui. E ter o imenso privilégio de apresentar para vocês.
Continuem doando. Vamos reconstruir um Rio Grande do Sul forte graças a solidariedade, empatia e amor de todo o Brasil. A Maior Rifa do Brasil prorrogou o sorteio, ainda dá tempo de você participar. Tem prêmios de até quase 6 mil reais!
É o meu Rio Grande do Sul céu, sol, sul, terra e cor
Onde tudo que se planta cresce
E o que mais floresce é o amorCom amor, Dimas Henkes ❤️
♪ álbum da semana ♪
Essa semana vou indicar o mesmo álbum que a Adriana Calcanhotto escolheu. Foi No Mês Que Vem, do Vitor Ramil, tem a grandiosa “Estrela, Estrela” que, além de cantada por Adriana, também já foi regravada por Gal Costa. Essa música me faz lembrar da minha infância no interior, tantas vezes já conversei com as estrelas sobre os meus medos, os mistérios do universo e meu tão desconhecido futuro. Na época, eu nem conseguia imaginar algo que fosse fora daquele pequeno universo. As estrelas me guiaram até aqui e me fazem lembrar da força da natureza na minha vida.
Gaúcho no Campo, de José Lutzemberger.
Querem saber de mais lançamentos? Todos esses (e muitas outras novidades) estão na minha playlist de 2024:
ಥ_ಥ e um a até logo…
Muito obrigado por acreditar na minha pesquisa e na minha escrita.
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Dimas, muito obrigada por compartilhar tão carinhosamente esse Rio Grande do Sul que eu nunca imaginei. Eu vivo no nordeste e não faço ideia do que é o sul do Brasil. Todas as poucas informações ou conhecimento que tive acesso nunca foram positivas. As suas palavras permitiram que eu visualizasse um lugar precioso cheio de cultura, de história e beleza.