#98 - Música pop com bibliografia
Lady Gaga, Beyoncé e Pabllo Vittar lançam bibliografias de referências em seus trabalhos.
(っ◔◡◔)っ Olá, ouvinte!
Quem lembra de que, no meio da pandemia, a Lady Gaga lançou o videoclipe de 911 com várias referências ao cinema surrealista? Em minutos, os fãs já estavam criando Threads no Twitter com todas as referências visuais usadas pela cantora. Ela fez os Little Monsters conhecerem Fellini, Sergei Parajanov, Jodorowsky e outros em um momento em que todos estávamos trancados em nossas casas. Entregou de mão beijada arte do cinema quando mais precisávamos.
Beyoncé também começou a trabalhar mais profundamente com essa lógica. Desde o início da sua carreira ela faz referencia a grandes nomes da música. No Dangerously In Love (2003), por exemplo, já havia sample de Donna Summer com Love to Love You Baby em Naughty Girl. Mas foi em Renaissance que ela elevou o jogo: mostrou que historicamente a House Music e todos estilos incorporados pela Dance Music tem as raízes na comunidade negra. Mas ela não entrega isso de mão beijada: você precisa estudar. E é isso que torna seu trabalho ainda mais enriquecedor.
Na arte contemporânea dificilmente você vai entender uma obra na primeira vista. Atualmente, se você for em uma exposição, é melhor você conhecer um pouco do histórico do artista. Claro que você vai sentir algo, da mesma maneira que vai sentir algo se escutar o álbum da Beyoncé. Mas esses trabalhos entregam uma bibliografia extensa para a própria obra de arte ter milhares de significados e se tornar infinita. Imagina quantas ramificações de significados a obra pode te ensinar: em vez de só escutar Alien Superstar, por exemplo, você pode ir nos créditos da canção e ver o nome da produtora Honey Dijon e, a partir disso, pesquisar a sua trajetória e entender a luta de pessoas negras e LGBTQIAPN+ na construção da House Music de Chicago. Tá tudo conectado. Mas depende do próprio espectador até onde ele quer ir.
No Brasil, Pabllo Vittar já mostrava algumas referências da música do Norte e Nordeste em seus shows. O próprio icônico grito “YUKEEEEE” é inspirado na Mylla Karvalho da Cia do Calypso, inspiração que virou música e homenagem no Batidão Tropical Volume 1, com a música Bang Bang. Agora, com o Volume 2, Pabllo apresenta novas referências com covers e participações especiais de Banda Djavú, Gaby Amarantos e Taty Girl, ícones da sua infância que ganham um novas roupagens e significados. Os fãs já estão criando vários vídeos no TikTok e Threads no Twitter com playlists para outros fãs descobrirem músicas clássicas da cultura do Brega, Tecnobrega e Forró.
Em seu mais recente trabalho, Duda Beat também apresenta algumas surpresas. Tara e Tal tem referênciass de Noporn e Drum'n'Bass brasileiro (de Fernanda Porto e DJ Patife). Mas o que mais amei é que ela começa o álbum com um sample de Coco Dub de Chico Science, precursor do Mangue Beat, um dos maiores movimentos artísticos de Pernambuco, terra natal da Duda. Música pop com tema de casa.
Com amor, Dimas Henkes ❤️
♪ álbum da semana ♪
Sintetizando a “Geração Limbo”, que nasceu na metade dos anos 90s e carrega peculiaridades da Gen Z e Millenals dentro de si, Mainline Magic Orchestra é um prato cheio de música eletrônica e deboche. Com referências que vão do Trance até a Cultura Pop contemporânea, o trio catalão apresenta um dos trabalhos mais inovadores da música pop-eletrônica da década. Claro que isso é só a minha opinião, mas tenho certeza que o som deles soará muito peculiar (e ao mesmo tempo nostálgico) nos ouvidos de vocês. Shrek, BDSM (o fetiche), House Music e Cigarros são os principais temas abordados de forma bem humorada com muitas camadas de beats e piadas nesse primeiro álbum. Harri Potter é um trabalho divertido cheio de samples e segredinhos pra você explorar enquanto escuta.
Uma playlist p/ vc
Lola’s Club, fundado pelas sócias e amigas Júlia Trindade e Luana Lloyd, criam encontros criativos para você sair da procrastinação com trocas e laços reais fora da internet. Além disso, elas criaram uma playlist super fofa com uma curadoria excelente: André 3000 e Sun Ra são só alguns nomes presentes na seleção.
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Rihanna (2023), fotografada por Nadia Lee Cohen for Interview Magazine.
lançamentos quentes! ☻
Pabllo Vittar lança o tão esperado Batidão Tropical Vol. 2 com regravações de Banda Djavú e outros sucessos do Forró e Tecnobrega.
Duda Beat inova com novos instrumentais para suas letras cheias de tesão e coração partido em Tara e Tal.
Querem saber de mais lançamentos? Todos esses (e muitas outras novidades) estão na minha playlist de 2024:
( ͡ᵔ ͜ʖ ͡ᵔ ) hora da fofoca!
Eu amo a Rita Lee. Mas trocar o nome para “Ibirapuera - Rita Lee” é apagar a história dos povos nativos. Erraram muito com essa proposta. Poderiam dar a Roosevelt pra ela.
Rihanna is ready to confess. Uma entrevista inédita (e chata) com a Rihanna. Realmente nos contentamos com pouco.
A escritora obcecada por música Emma Warren apresenta o Bandcamp Weekly comemorando o lançamento de seu livro “Dance Your Way Home”.
Tô fissurado na série Sugar, da AppleTV. Direção do Fernando Meirelles com inspirações muito claras de Terrence Malick e David Fincher. Na trilha sonora tem Kamasi Washington e Rosalía. O roteiro é pegajoso e as atuações são ótimas!
Chechênia proíbe músicas muito lentas ou muito rápidas: as músicas devem estar entre 80 e 116 batidas por minuto. Que piada!
ಥ_ಥ e um a até logo…
Muito obrigado por acreditar na minha pesquisa e na minha escrita.
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